Traição e cenoura: novela que terminava há 48 anos ficou marcada por bastidores picantes
Novela de Janete Clair que não obteve o sucesso esperado pela Globo, Duas Vidas terminava há exatamente 48 anos, ficando marcada por várias polêmicas nos bastidores

Publicado em 13/06/2025 às 09:41
Há exatamente 48 anos, em 13 de junho de 1977, a Globo terminava a exibição de Duas Vidas, novela das oito escrita por Janete Clair. A autora, considerada uma das maiores novelistas brasileiras, já havia emplacado vários sucessos, mas essa trama acabou não tendo grande destaque em sua galeria de obras.
Aliás, a novela se destacou pelos motivos errados: a produção teve bastidores conturbados, inclusive com detalhes “picantes” envolvendo seu elenco. A protagonista Betty Faria, o ator Mário Gomes e o diretor Daniel Filho acabaram se envolvendo num escândalo na época.
Realismo
Com Duas Vidas, Janete Clair tentava consolidar uma fase “realista” de sua carreira. A autora, até então, era adepta do folhetim rasgado e fantasioso. Mas, com Pecado Capital (1975), ela iniciava um estilo mais “pé no chão”. Duas Vidas nasceu dentro deste contexto.
A trama mostrava a vida de cariocas que foram desapropriados do bairro do Catete por conta de uma obra para a construção de um metrô, fazendo uma crítica social quanto ao impacto do progresso na vida das pessoas. Uma das famílias desapropriadas foi a de Grego (Sadi Cabral), que passou a viver no apartamento que o filho Tomás (Cecil Thiré) morava com a esposa Leda Maria (Betty Faria).
Contudo, após a morte de Tomás, Leda se viu envolvida com o médico Vitor Amadeu (Francisco Cuoco) e também com o aspirante a cantor Dino César (Mário Gomes), seu amor de juventude. Mas o artista também se aproximou de Cláudia (Susana Vieira), a dona de uma gravadora.
Escândalo
Duas Vidas teve uma recepção morna por parte do público. No entanto, os bastidores conturbados da trama abasteceram os jornais e as revistas de fofoca. Na época, a atriz Betty Faria se envolveu com Mário Gomes na vida real.
Daniel Filho (foto acima), diretor da novela que era casado com Betty na época, acabou abandonando a produção. Com isso, Gonzaga Blota e Jardel Mello assumiram a condução da trama às pressas.
"Foi abandono mesmo. Eu larguei a história e nem mais vi a novela", admitiu Daniel ao livro Nossa Senhora das Oito, de Mauro Ferreira e Cleodon Coelho.
Depois disso, Mário Gomes ainda se viu em meio a mais uma fofoca. O jornal Luta Democrática publicou que o galã havia dado entrada em um hospital com uma cenoura entalada no ânus. A fofoca foi plantada por Carlos Imperial, polêmico produtor musical e cineasta, para se vingar do ator.
Isso porque, em 1976, o cineasta espalhou pela cidade cartazes do ator vestido de mulher para divulgar o filme O Sexo das Bonecas. Mário Gomes não teria gostado da ação e entrou na Justiça, conseguindo o recolhimento dos materiais.
Censura
Além de todo o quiprocó envolvendo Daniel Filho, Betty Faria e Mário Gomes, Duas Vidas ainda foi alvo da Censura. O Brasil ainda vivia no regime militar e Janete Clair fazia justamente uma crítica às obras do metrô, obra do governo federal.
Os censores implicaram com vários pontos da trama, como o romance entre a madura Sônia (Isabel Ribeiro) e o jovem Maurício (Stepan Nercessian). Tudo isso fez os censores cravarem que Duas Vidas era subversiva e atentava contra a moral e os bons costumes.
Janete Clair, incomodada, mandou uma carta ao à Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal:
“Quem lhe escreve é uma escritora perplexa e desorientada em face dos cortes que vêm sendo feitos pela Censura Federal nos últimos capítulos da novela Duas Vidas. Perplexa e desorientada não apenas pela drástica mutilação da obra que venho realizando, como também diante do incompreensível critério que orienta a ação dos censores. De fato não posso entender que conceitos morais ou de qualquer natureza possam determinar a proibição de um romance de amor entre um jovem e uma mulher madura, ambos solteiros. (…) Não posso entender igualmente o porquê da proibição de outra cena em que o dono de uma casa de móveis reclama contra a poeira produzida pelas obras do metrô, que lhe emporcalha os móveis e afugenta a freguesia, quando todos nós sabemos dos transtornos ocasionados por essa obra pública (…)”, escreveu a novelista.
Duas Vidas foi reapresentada pela Globo em janeiro de 1981, na faixa das 22 horas, num compacto de 20 capítulos. A novela nunca mais poderá ser vista na íntegra pelo público, já que restaram apenas seis dos 154 capítulos originais e apenas metade da versão compacta. A trama será disponibilizada no Globoplay através do Projeto Fragmentos, mas ainda não existe uma previsão de entrada.