Memória

Traição e cenoura: novela que terminava há 48 anos ficou marcada por bastidores picantes

Novela de Janete Clair que não obteve o sucesso esperado pela Globo, Duas Vidas terminava há exatamente 48 anos, ficando marcada por várias polêmicas nos bastidores


Mário Gomes e Betty Faria em Duas Vidas
Mário Gomes e Betty Faria em Duas Vidas

Há exatamente 48 anos, em 13 de junho de 1977, a Globo terminava a exibição de Duas Vidas, novela das oito escrita por Janete Clair. A autora, considerada uma das maiores novelistas brasileiras, já havia emplacado vários sucessos, mas essa trama acabou não tendo grande destaque em sua galeria de obras.

Aliás, a novela se destacou pelos motivos errados: a produção teve bastidores conturbados, inclusive com detalhes “picantes” envolvendo seu elenco. A protagonista Betty Faria, o ator Mário Gomes e o diretor Daniel Filho acabaram se envolvendo num escândalo na época.

Realismo

Com Duas Vidas, Janete Clair tentava consolidar uma fase “realista” de sua carreira. A autora, até então, era adepta do folhetim rasgado e fantasioso. Mas, com Pecado Capital (1975), ela iniciava um estilo mais “pé no chão”. Duas Vidas nasceu dentro deste contexto.

A trama mostrava a vida de cariocas que foram desapropriados do bairro do Catete por conta de uma obra para a construção de um metrô, fazendo uma crítica social quanto ao impacto do progresso na vida das pessoas. Uma das famílias desapropriadas foi a de Grego (Sadi Cabral), que passou a viver no apartamento que o filho Tomás (Cecil Thiré) morava com a esposa Leda Maria (Betty Faria).

Contudo, após a morte de Tomás, Leda se viu envolvida com o médico Vitor Amadeu (Francisco Cuoco) e também com o aspirante a cantor Dino César (Mário Gomes), seu amor de juventude. Mas o artista também se aproximou de Cláudia (Susana Vieira), a dona de uma gravadora.

Escândalo

Traição e cenoura: novela que terminava há 48 anos ficou marcada por bastidores picantes

Duas Vidas teve uma recepção morna por parte do público. No entanto, os bastidores conturbados da trama abasteceram os jornais e as revistas de fofoca. Na época, a atriz Betty Faria se envolveu com Mário Gomes na vida real.

Daniel Filho (foto acima), diretor da novela que era casado com Betty na época, acabou abandonando a produção. Com isso, Gonzaga Blota e Jardel Mello assumiram a condução da trama às pressas.

"Foi abandono mesmo. Eu larguei a história e nem mais vi a novela", admitiu Daniel ao livro Nossa Senhora das Oito, de Mauro Ferreira e Cleodon Coelho.

Depois disso, Mário Gomes ainda se viu em meio a mais uma fofoca. O jornal Luta Democrática publicou que o galã havia dado entrada em um hospital com uma cenoura entalada no ânus. A fofoca foi plantada por Carlos Imperial, polêmico produtor musical e cineasta, para se vingar do ator.

Isso porque, em 1976, o cineasta espalhou pela cidade cartazes do ator vestido de mulher para divulgar o filme O Sexo das Bonecas. Mário Gomes não teria gostado da ação e entrou na Justiça, conseguindo o recolhimento dos materiais.

Censura

Traição e cenoura: novela que terminava há 48 anos ficou marcada por bastidores picantes

Além de todo o quiprocó envolvendo Daniel Filho, Betty Faria e Mário Gomes, Duas Vidas ainda foi alvo da Censura. O Brasil ainda vivia no regime militar e Janete Clair fazia justamente uma crítica às obras do metrô, obra do governo federal.

Os censores implicaram com vários pontos da trama, como o romance entre a madura Sônia (Isabel Ribeiro) e o jovem Maurício (Stepan Nercessian). Tudo isso fez os censores cravarem que Duas Vidas era subversiva e atentava contra a moral e os bons costumes.

Janete Clair, incomodada, mandou uma carta ao à Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal:

“Quem lhe escreve é uma escritora perplexa e desorientada em face dos cortes que vêm sendo feitos pela Censura Federal nos últimos capítulos da novela Duas Vidas. Perplexa e desorientada não apenas pela drástica mutilação da obra que venho realizando, como também diante do incompreensível critério que orienta a ação dos censores. De fato não posso entender que conceitos morais ou de qualquer natureza possam determinar a proibição de um romance de amor entre um jovem e uma mulher madura, ambos solteiros. (…) Não posso entender igualmente o porquê da proibição de outra cena em que o dono de uma casa de móveis reclama contra a poeira produzida pelas obras do metrô, que lhe emporcalha os móveis e afugenta a freguesia, quando todos nós sabemos dos transtornos ocasionados por essa obra pública (…)”, escreveu a novelista.

Duas Vidas foi reapresentada pela Globo em janeiro de 1981, na faixa das 22 horas, num compacto de 20 capítulos. A novela nunca mais poderá ser vista na íntegra pelo público, já que restaram apenas seis dos 154 capítulos originais e apenas metade da versão compacta. A trama será disponibilizada no Globoplay através do Projeto Fragmentos, mas ainda não existe uma previsão de entrada.

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