Paixão proibida nos bastidores prejudicou galã em novela da Globo
Além de não ter feito sucesso, novela exibida pela Globo há quase 60 anos ainda ficou marcada por uma paixão avassaladora nos bastidores que mexeu com a estrutura da trama

Publicado em 24/05/2025 às 13:41,
atualizado em 24/05/2025 às 20:11
Uma novela mexicana nos bastidores de uma produção da Globo. Assim se pode definir assim o que aconteceu ao longo das gravações de A Gata de Vison, exibida pela emissora entre 26 de junho de 1968 e 6 de janeiro de 1969. Além de não ter feito sucesso, a trama ficou marcada por uma paixão inusitada nos bastidores.
A autora, Glória Magadan, se apaixonou por um dos artistas do elenco, Geraldo Del Rey, e fez seu personagem crescer, deixando outros descontentes, como Tarcísio Meira.
Gângster
A história de A Gata de Vison já não ajudava: mostrava gângsters e mafiosos na violenta Chicago de 1920. Ainda era a época das tramas rocambolescas, longe da realidade nacional, que terminariam em seguida, a partir de Véu de Noiva, de Janete Clair, em 1969.
O público e os anunciantes também rejeitaram uma troca de casais realizada pela Globo. Até então, os pares românticos sempre eram formados pelas duplas Tarcísio Meira e Glória Menezes e Carlos Alberto e Yoná Magalhães. A Globo resolveu misturar: Tarcísio e Yoná protagonizaram A Gata de Vison, enquanto Carlos Alberto e Glória foram para Passo dos Ventos. Não deu certo, refletindo no Ibope e no faturamento.
Mas o grande fato que marcou a produção foi a paixão de Magadan por Del Rey. Os dois tiveram um romance no período. O personagem do ator, Gino Falconi, inicialmente um vilão, foi crescendo e se transformando, a ponto de se tornar protagonista, papel que cabia a Bob Ferguson (Tarcísio Meira).
O crescimento de Falconi causou efeito reverso para Ferguson: foi se descaracterizando, a ponto de ficar perdido entre ser um mocinho ou o verdadeiro vilão da novela. Meira, grande astro das produções da época, evidentemente ficou descontente e pediu para deixar a trama, sendo substituído por Milton Rodrigues.
Fim da linha
Quanto maior o ardor entre Magadan e Del Rey (foto acima), mais Ferguson ia mudando de características e personalidade. Certo dia, ao receber os capítulos para gravar, Tarcísio leu e ficou revoltado. Foi até a produção e deu um ultimato: "Ou grava a minha morte essa semana, ou meu personagem pega o próximo trem e não volta".
O caráter de Falconi continuou sendo remodelado e a solução encontrada pela autora foi criar uma irmã gêmea da personagem de Yoná Magalhães para ser o par romântico do personagem.
Falconi se entregou à polícia e assinou uma confissão onde se diz responsável por todos os crimes que cometeu. A prisão ameaçava a Máfia, que temeu que seus segredos fossem revelados. Mas Dino se recusou a ser um delator. Condenado à morte, foi inocentado a poucas horas de sua execução, graças às provas contra a organização criminosa que foram encontradas.
Saída da autora
Em decadência junto à direção da Globo, Glória Magadan (foto acima) praticamente cavou sua demissão da emissora após esse episódio, aliado a outros acontecimentos. Depois de sucessos em 1966 e 1967, as tramas de 1968 e 1969 não iam bem. Ao mesmo tempo, Janete Clair, que assumira Anastácia, a Mulher Sem Destino, criando o famoso terremoto que matou boa parte dos personagens, ganhava cada vez mais espaço.
Magadan deixou a Globo ainda em 1969. A autora foi para a Tupi, onde escreveu uma trama com história contemporânea, E Nós, Aonde Vamos, que, no entanto, foi um fracasso.
Descontente, se mudou para Miami, nos Estados Unidos, onde continuou sua carreira, mais focada em livros e artigos para revistas. Em 1996, Magadan foi convidada para escrever uma novela para a extinta Manchete, chegando a entregar uma sinopse, mas o projeto não foi em frente em virtude da eterna crise financeira do canal.
Glória Magadan morreu em Miami no dia 27 de junho de 2001.