Nostalgia

Babi Xavier planeja ressuscitar atração consagrada da MTV: "Erótica Reloaded"

Em longa entrevista, Babi Xavier relembrou seu primeiro encontro com Silvio Santos, os tempos de Programa Livre e Ilha da Sedução no SBT, além das novelas bíblicas da Record e seu confinamento na primeira temporada de A Fazenda


Babi Xavier no Erótica MTV, atualmente e no Programa Livre
Babi Xavier ganhou notoriedade como apresentadora no Erótica MTV; há planos de um "revival" - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Thiago Forato

Publicado em 03/06/2025 às 00:20,
atualizado em 03/06/2025 às 10:23

Babi Xavier quer trazer de volta o Erótica MTV, sucesso que comandou na emissora entre 1999 e 2000. O nome, no entanto, seria outro, mas seguindo a mesma premissa de falar sobre sexo de uma maneira despojada e descontraída ao lado de Jairo Bouer, médico psiquiátrica especialista em sexualidade. "Erótica Reloaded", brinca ela.

A revelação foi feita ao NaTelinha em uma longa entrevista publicada no YouTube (vídeo ao fim da matéria) e que também aparece aqui em formato de texto. Babi Xavier abre a série de 20 entrevistas com personalidades que fizeram ou fazem a história da nossa TV neste mês que marca as duas décadas do site.

A apresentadora relembra o período que comandou o Erótica MTV. "O Erótica renderia memes porque existem os memes. Mas acredito que isso ia ser pautado pela forma como conduzir o programa", acredita. "A gente explicava o jeito que tinha que ser explicado."

A ruiva também recorda seu primeiro encontro com Silvio Santos (1930-2024), os tempos de Programa Livre e Ilha da Sedução no SBT, além das novelas bíblicas da Record e seu confinamento na primeira temporada de A Fazenda, em 2009.

Confira:

NaTelinha - Está com mais saudade de apresentar ou atuar? Em termos de números, você tem mais trabalhos como atriz que como apresentadora, mas me parece que você gosta mais de apresentar programas, me corrija se eu estiver errado.

Eu fui apresentadora por oito anos, mas minha carreira vai fazer 32. E eu fui apresentadora 'on', tipo a 'mãe tá on', por oito anos seguidos. Considero como faculdade, quase Mestrado e Doutorado, né? Fazendo a coisa acontecer e errado no ar, acertando no ar. E principalmente fora do ar. Porque o que a gente vê no ar, é o resultado de muito trabalho, expectativa, medo, muitas conquistas. É a ponta do iceberg que aparece. E como atriz a gente sabe tem muitas possibilidades de várias formas, tamanhos. Como atriz você pode fazer uma participação, novela inteira, início de um filme. Teatro é uma coisa que você pode ir e vir. Uma peça pode ser apresentada por 20 anos e não precisa ser consecutiva. Eu fui muito tempo atriz.

Na Record, fiquei 10 anos renovando contrato e a gente já entende que eu estive à disposição de uma emissora na teledramaturgia por mais tempo que em outras emissoras. Já estive na tela de todas elas, acho que só não estive na RedeTV! com contrato. Até novela na Band, então estive tem todas... Participações em entrevistas... Fui em todas, considero esse percurso muito bom.

Mas é puxado dizer o que prefiro. São paixões diferentes. São namorados diferentes!

NaTelinha -- Ahhh, poliamor! O poliamor está liberado...

Nessas áreas correlatas... Cantar foi a coisa que menos fiz publicamente, mas o que mais coloca 'assim'. A hora de voo, de câmera falando, mas a hora de voo cantando... Eu curto muito ser apresentadora porque você... Como você assina seu nome, você tem inúmeras possibilidades. De se juntar a marcas, veículos, agora tem internet, tudo, né? A própria TV que eu amo. Ela vai se transformar, não vai acabar. Acredito que não vai acabar.

Apresentar me dá um prazer diferente porque ele é contínuo. Você bota o pé pra fora de casa, apresentador tal, apresentadora tal. Você põe o figurino e já tá chegando na personagem.

NaTelinha - Você também trabalhou na extinta TV Manchete. Poucos hoje podem dizer que tiveram esse orgulho. Você começou no Milk Shake que tinha a apresentação da Angélica...

Era num elenco de apoio que aparecia um pouquinho mais...

NaTelinha - Quem te colocou ali? Quem te colocou na Manchete? Como aconteceu essa primeira pontinha?

Eu busquei isso. Foi acontecendo do meu interesse mesmo, vai vendo como faz. Como chega bem? Não que eu pudesse ter assim, mas a gente rala, busca e faz. Na escola, uma menina volta e meia no recreio aparecia com umas fotos tão bonitas. Principalmente numa fase que a gente não usava nada para fotografar em casa. Hoje você tem uma boa luz, resolução, câmera, essa foto pode ser capa de revista.

Eu tinha uma máquina muito simples. Eu gostava, sempre gostei de registrar momentos, paisagens... Sempre. Eu tinha máquina. Quando ela trouxe essas fotos do recreio, nem era amiga dela mas me aproximei com genuíno interesse. 'É o meu tio que faz'.

Eu tinha 14 anos, e em troca das fotos, comecei a ir em alguns eventos... As fotos a gente pagou, porque tem muita troca nesse início de carreira. E aí ele me levou, a mim e outras pessoas pra fazer essa plateia. Chamei a atenção do Paulo Ricardo, que na época era empresário da Angélica e da Mara [Maravilha].

NaTelinha - Ainda bem que não tinha celular na época, hein?

Imagina, coitado? Não ia viver muito, né? Ele conversou com a minha mãe que falou: 'Legal, vamos ver'. Mas ela não fez nada das orientações. Quando você entrar na faculdade o seu caminho é liberado. E assim eu fiz. Por isso estava na Manchete, depois levava até minhas amigas da escola.

Até que fui pra São Paulo, fiz testes pra MTV e a coisa aconteceu como apresentadora. Mas antes, ainda fiz novela aqui.

NaTelinha - Não faz muito tempo que você passou em Por Amor no Vale a Pena Ver de Novo. Você se assistiu? Deve ser engraçado se assistir tantos e tantos anos depois, numa época que a novela dava 50 pontos de audiência...

Sim, sim... Eu gosto muito de ver meus trabalhos. Eu me perdoo. Tem gente que tá sempre pronto pra crítica, mas não é o momento porque o trabalho está feito. Óbvio que tem que melhorar, mas de acordo com o que você se sente. E o conjunto da obra fica melhor.

Muita gente não consegue ouvir sua própria voz numa gravação. Lógico que também sou analisada, então terapia ajuda muito a entender seus processos.

NaTelinha - Foi seu ponto de virada? De Por Amor você foi pra MTV numa fase áurea. Foi a novela que te credenciou a ir para a MTV ou não teve nada a ver?

Teve muita relação, teste de vídeo, muito ônibus... Muito mesmo, sabe? Quando fiz Por Amor e a novela tava acabando, o Ruy Brito, produtor de elenco, falou: 'Babi, vai ter um teste pra apresentadora. Já pensou em ser?'. Eu falei: 'Sempre'. Não procurava ninguém, mas ficava atenta. 'Você tem o físico pra substituir uma que vai sair na TV Sky, você vai apresentar cinco minutos de conteúdo e vai passar de meia em meia hora no canal do assinante'.

Ali, nesse trabalho entre Por Amor e MTV, esse trabalho me preparou pro Erótica MTV. Era todo mundo juntinho ali, chroma, então. Teve um momento que fiquei na MTV, SBT e Sky. Um atravessou o outro, porque podia. Um era satélite, TV aberta, UHF...

Um tempo depois fui chamada pra fazer os testes do Erótica MTV, era um programa da MTV americana, tinha acho que um psiquiatra ou um psicanalista, não lembro, com um tipo de humor americano. Aqui a gente é diferente. Latino, né? Você fala uma coisa, dá uma zoada... O que eu quis nesse programa, fui fazendo os testes, fui afunilando, tanto Sky como MTV, mesmo processo. Vai afunilando, tem o call back, o chamar de volta. Menino, ia com sangue nos olhos!

Morava no Rio, era casada já com 22 anos. Agora espero que seja a definitiva.

Babi Xavier planeja ressuscitar atração consagrada da MTV: \"Erótica Reloaded\"

NaTelinha - Dependendo do par, separar é melhor, né?

Isso eu aconselho, claro! Não permaneça casado porque ser casado é legal. Ser casado é legal quando essa química, união, faz uma coisa muito bacana.

NaTelinha - O Erótica era um formato consagrado nos Estados Unidos. Vocês não chegaram a ver a versão americana? Não houve orientação pra que vocês pudessem moldar o programa? Como foi a mecânica?

Como a gente respondia às mesmas empresas, a gente teve a diretriz e possibilidade que fosse uma inspiração. A gente sabia que devido a uma 'latinidade', como se dá todo um ensinamento, consciência, de educação sexual dos Estados Unidos e como se dá no Brasil? É muito diferente.

Isso é uma coisa que permeia muito meu querer, que o Erótica volte com outro nome e tal, mas fazer o que o Jairo chama de... A gente quer voltar. Fazer um Erótica Reloaded. 45+. A gente faz pra essa galera e todo mundo assiste. Um cara de 20 assiste pra saber como vai ser, assiste a família, todo mundo. Os programas meio que são compartilhados, algumas coisas perduram.

NaTelinha - As perguntas de hoje seriam parecidas com aquelas dos anos 90? Se o Erótica voltasse, tenho certeza que seria um 'meme ambulante'. Hoje temos mais informações que naquela época.

Quando você fala aquela coisa do meme... As pessoas já buscam o meme. Hoje você tem uma boa parte de pessoas querendo causar, impactar, lacrar. Antes as pessoas faziam isso em casa. Hoje as pessoas, algumas, uma boa parte, está mais acostumada a falar isso na TV, no rádio. É uma coisa que as pessoas estão se colocando mais. Estão bancando mais suas dúvidas.

Uma coisa que pode permear o Erótica Reloaded é a menopausa. A mulher quando envelhece já vira meio que párea da sociedade, ninguém olha pra ela, fica invisível. A gente tem uma sociedade muito voltada para o jovem. Quando vai passando o tempo e ele é inexorável, e não é bem por aí. É vendido que o jovem é legal, porque se vende muita coisa a partir dessa concepção.

Hoje estou com 50 e é muito legal sabendo das 'coisinhas' sabendo que sei hoje. Me sinto bem feliz. Problemas de sexualidade vão existir com o passar do tempo. Por isso temos que nos cuidar constantemente.

O Erótica renderia memes porque hoje existem os memes. Mas acredito que isso ia ser pautado pela forma como conduzir o programa. Se você quer ajudar, deixa o outro vir com lacração, com toda sua aflição inclusive. Determinadas brincadeiras são disfarces pra sua insegurança.

Me vejo ouvindo o que tem que ouvir, e uma vez entendendo, apontar caminhos.

NaTelinha - A condução, então, mudaria tudo. Que cara ele teria a partir do fio condutor...

Eu e o Jairo [Bouer], por exemplo, ele já viveu algumas coisas... Hoje tem muito mais pauta, né? Hoje tem muita pauta, hoje ia querer saber muito mais no próprio programa. Porque é isso, as pessoas tem dificuldades.

Senta que lá vem a história porque tem bastante conteúdo.

NaTelinha - Você lembra nos tempos de MTV quando você percebeu que o canal estava pegando? Aqui no interior de São Paulo ela não pegava bem, ela pegava cheio de chiado, mas mesmo assim fazia questão de assistir muita coisa. Quando percebeu que a MTV estava dando certo?

Ali, o que eu vejo é que a MTV é um produto. Não é ela que é o chefe. Na época da Viacom. E tinha relações com a Editora Abril, tinha toda uma trança. Acho que já pegava muito que ela falava mesmo pra quem queria saber de música. E falava de uma forma muito reta, muito simples, muito relax. Isso você pode ver. Qualquer programa da MTV antigo, no próprio Erótica posso te dizer isso. Pouquíssimas vezes devo ter usado alguma gíria pontual. A gente explicava o jeito que tinha que ser explicado. E viva a língua portuguesa como ela é. Hoje há se de perguntar porque da quantidade de neologismos, de invenções de palavras. Hoje você tem em termos de relacionamento, você tem o ficante, crush, o cara que pratica o ghosting, então você tem vários tipos de relacionamentos.

NaTelinha - Tudo em inglês...

Tudo em inglês! Agora tem o ligante.

NaTelinha - O que é isso?

Você acaba tendo meio que tendo um relacionamento, mas não passa do telefone. As pessoas não se encontram. Se não se encontram, não ficam juntas...

NaTelinha - No sentido carnal da coisa...

Então, são ligantes. E é cansativo isso. Melhor dizer 'a gente não se viu, a gente só se telefona'.

NaTelinha - Pelo menos esse tá em português.

Pelo menos tá em português! Tem razão. Mas é isso, hoje daria muito certo. A gente tem que lembrar que a dúvida de um é a de vários.

NaTelinha - Depois você foi para o SBT. A MTV era uma emissora que fazia sucesso, mas tinha alcance limitado. A audiência do SBT era estrondosa. Substituindo Serginho Groisman, então... Como foi esse choque?

Era mais simples, era mais fácil olhar para a próxima boa coisa. Você tinha menos gente trabalhando muito no mercado. Você podia aprofundar isso. Quem pode apresentar um programa na nossa grade? Hoje é quem traz o dinheiro.

Já tem um horário que pode marcar para as TVs e colocar no ar. Hoje a Sonia Abrão é precursora desse modelo. Nunca parou de trabalhar.

Babi Xavier planeja ressuscitar atração consagrada da MTV: \"Erótica Reloaded\"

NaTelinha - É um fenômeno. E aguentar um programa de duas horas diário...

Ela só para se quiser. Então, 200 mil merchandisings vão sustentar. E ela vende. Ela sabe fazer. E ela produz o programa, ela, o irmão. Uma produção incrível.

NaTelinha - Meu seu convite do SBT partiu de quem?

Quem me ligou foi o Orlando Macrini. Ele me ligou e eu me lembro, falou: 'Babi, sou o Orlando, trabalho com o Silvio Santos e estou ligando por causa disso. Ele quer marcar uma reunião com você. E conversar sobre possibilidades'. Na hora, será que é trote?

NaTelinha - Primeira coisa que pensa?

Se fosse o próprio Silvio... As coisas eram mais diretas, simples. Quem está na TV de hoje? Vamos dar uma olhada. E acho que foi o indício no ano de 1999, dessa coisa que você já tem um público. E então a emissora, ou a marca, prefere trazer você com toda sua carteira de clientes do que começar com alguém do zero. E já foi o início desse movimento.

E aí, claro, já passo direto pro agente.

NaTelinha - Já tinha agente então?

Tinha. Tem que ter alguém que entenda do mercado, de valores, das práticas. E você vai aprendendo com o tempo. E hoje eu consigo ler um contrato de uma maneira muito mais profissional.

NaTelinha - Você chegou a ficar frente a frente com o Silvio pra saber o que ele queria de você? Como foi o primeiro encontro? Você paralisou?

Falei: 'Bom, esse é o contrato da vida'. Não o contrato da vida para sempre. Nem li pra minha filha os contos dos 'felizes para sempre'. 'E foram felizes por um bom tempo'. Não lembro se a primeira vez foi no SBT... Porque ele tinha um escritório, não lembro onde era. Era muito bonito, fui à reuniões ali também.

Não dá pra fazer um encontro só, realmente. Foram três encontros. A parte boa é que vou usando o que aprendi para o próximo desafio. Antes de encarar o Silvio, um ícone nacional, também já tinha estado diante de muita gente de muita expressão na dramaturgia. Usei essas 'chavezinhas' para não paralisar.

NaTelinha - Você lembra o que o Silvio te prometeu, que ia fazer. Qual era seu papel? Imagino que seja difícil dizer não pra ele.

A mente dele sabe muito. Sabia muito dos negócios. E de números. A gente foi falar de uma questão pra calcular, e ele na hora [fez a conta].

NaTelinha - O que ele te prometeu? Já era o Programa Livre de cara?

Já era pra isso. O primeiro encontro ele pode ter me analisado melhor. O SBT sempre teve uma coisa muito bonita de entender que o início não vai ser igual ao meio. Não começa naquela reta por cima.

Tudo tem uma adaptação. Mesmo que amanhã eu volte a apresentar o Programa Livre, vamos ter o início da novela. Então, é natural. Fiz isso inclusive pro meu podcast, o Dejavi. Eu gravei quatro entrevistas e como primeira entrevista, exibi a terceira.

NaTelinha - A estreia não foi a estreia.

A estreia não foi a estreia! E por que fiz isso? Pra dar uma coisa mais resolvida aqui dentro para a audiência. O SBT sabia disso tudo. Algumas coisas a gente gravava várias vezes. Eu gravava muito mais programas do que a gente exibia.

NaTelinha - Foi muito programa para o lixo?

Foi, mas não foi por minha causa não. Foi porque o programa era gravado. E como era pra adolescentes, não podia ser à noite ao vivo. Por exemplo: o Programa Livre trazia você, e estávamos lá no Maranhão, você está com um espetáculo incrível, fez algo curioso. Eu trazia você, mas os programas de São Paulo ao vivo, buscavam você também. 'Ah, vai gravar à tarde o Programa Livre? A gente entra ao vivo 9 da noite!'. A pessoa saía, porque tava vendendo o lance dela.

NaTelinha - Estava pagando o almoço dos outros?

Exato. Pelo menos uma parte do cafezinho tava pago. O meu era gravado e aparecer no dia seguinte, daqui três dias...

NaTelinha - Tinha muita frente então?

Tinha muita frente. Programa diário, se você pode gravar, você pode gravar muitas possibilidades. Acontece em podcast, 'o convidado caiu'. E a pessoa não pode vir. Perdeu um voo, tropeçou, passou mal. Teve gente que não deu entrevista pra gente porque a noite anterior foi muito puxada... E agora? Tem que gravar! Vou chamar quem? Dou muito valor a produtores de programas e podcast. As pessoas têm que segurar esse rojão.

O apresentador também tem que segurar essa onda.

NaTelinha - O Programa Livre tinha esse excesso de zelo e frente de gravações por determinação de alguém ou questão econômica?

Não precisa entrar uma galera a cada programa. Na logística, não dá pra fazer isso. É muito caro de fazer. Teatro é caro de fazer, cinema, televisão. Por isso a internet entrou nesse sentido. Se você consegue bancar o caro de um smartphone...

NaTelinha - Lembra a sensação de entrar no estúdio do SBT pela primeira vez? Na MTV era mais manual, intimista, e no SBT, mais industrial, se é que posso usar essa palavra. Como foi?

Saí de uma estrutura que tive que aprender e me adaptar, de até sete pessoas na plateia. O Erótica podia ter adolescentes. Até sete! Dois ou três câmeras, e não tinha mais muita gente. Falavam com a gente no ponto. E o convidado. E não lembro se tivemos mais de um convidado ao mesmo tempo. Não cabia. E uma vez por semana. O Erótica passava três vezes porque tinha duas reprises.

Disso, para ir para um programa diário, de ao vivo para gravado. Outro rolê! Outras dificuldades. De uma produção de 20 pessoas pra uma de 45, 50 pessoas, vai saber. De uma plateia de sete pessoas pra até 350 pessoas.

A arena quando entrevistei o Hanson, tinha uma molecada aí... Foi difícil porque eu não me ouvia.

NaTelinha - E pegar um programa do Serginho? Ele já era consagrado. Tinha alguma pressão nesse sentido? E a expectativa do SBT?

A expectativa do SBT era que eu podia errar. Então 'tudo bem'. Tudo bem mais ou menos. Não posso ficar ali dando mole. Tenho que acertar. Pro público não foi tão imediatamente, porque teve uma coisa entre nós dois: um grupo de apresentadores, era um por dia semanal. Tinha a Lu Barsoti e nos outros dias os outros. Tinha Christina Rocha, Ney Gonçalves Dias... Teve ali alguns meses dessa turma toda por dia ali apresentando.

Chegou o momento que a emissora, o Silvio, departamento comercial, artístico, decidiram que o programa tinha que ter uma cara só. Não sei. Ou a conjunção disso tudo. E eu estava despontando na MTV, então foi esse o caminho, acho, pra eu chegar.

NaTelinha - Nessa época do Programa Livre você disse que jogavam muitos programas fora. Teve alguma edição histórica que a gente não assistiu?

Acredito que não. Acho que a gente não assistiu no ar alguma pauta que tenha ficado antiga ou batida em outros canais. Mas não tinha nenhuma ingerência sobre isso. Ficava sabendo disso depois.

NaTelinha - Por meio de quem?

Se eu perguntasse.

NaTelinha - Caso não, passava batido?

É. Porque assim, hoje é diferente. Hoje eu não precisaria fazer como era antes. Eu não trabalhava na produção. Eu não tinha minha mesa. Eu já tive até vontade de ser produtora em algum programa pra aprender isso melhor. Sei porque lidei com produção minha vida inteira. Você entende pra onde tá indo.

NaTelinha - Fui vasculhar nos arquivos e teve uma matéria que eu li que você brigou com Vildomar Batista. E quem assumiu o programa, foi o Rick Medeiros, homem de confiança do Silvio. O que tem de verdade e mentira nisso?

Acho que as diferenças existem. Quando você entra num lugar com muito olhar, pressão, com uma audiência excelente, a substituição de uma pessoa de expressão, tem essa expectativa, estou vindo da MTV. Aproveita-se coisas e rechaça-se outras. Vai ter diferença! O fato é: hoje acho que lidaria diferente. Perguntaria menos coisas. Lidaria diferente aí e resolveria ali na hora da gravação de uma forma diferente.

Se eu entendo a pauta, eu que vou falar por último. Isso me dá uma certa autonomia, um poder de decisão. Todo desentendimento que houve ou que disseram que houve...

NaTelinha - Houve mesmo?

Houve! Claro que houve. Até Xuxa e Marlene Mattos se desentendiam constantemente. E construíram história. Mas assim: são cabeças diferentes. E hoje a gente tem nomes pra isso. A cabeça do homem que vem numa estrutura patriarcal... Machistas, estamos todos inseridos no machismo. E essa cabeça dessa garota que tinha mais liberdade de se perguntar as coisas. Tava todo mundo mais no mesmo barco do que numa estrutura maior.

Então, senti falta de liberdade de propor. Mas topei mesmo assim. E eu era cabeçuda. Se você não consegue um caminho de troca de ideias num lugar que você entenda que possa existir, aquilo não vai ter sua identidade. E sabe que com o tempo você precisa trabalhar o apresentador. É por ele que as pessoas assistem. Se você não for uma coisa que as pessoas curtam... Tudo que a gente fala, tem que entender que tem muitas pessoas ouvindo. Será que estão entendendo? É difícil.

NaTelinha - Quais eram as principais diferenças que você enfrentou ali?

Nem lembro.

NaTelinha - Só sabe que teve?

Resolvido estava. Tem que apresentar uma coisa bonita, saudável no ar. E é isso. Quantas pessoas não vão ao trabalho todo dia e tem diferenças com seus próprios colegas? Às vezes você vai ter algum jornalista do seu lado que vai entrevistar junto e pensam muito diferente. E não estão conseguindo se organizar.

O Programa Livre não dependeu de nada disso. Tive outros diretores também. Cada um tem seu jeito. E quero falar pra você que a gente vem de uma televisão muito pensada por homens brancos. 'Ah, que discurso chato, Babi!'. Mas era assim.

NaTelinha - Por que acabou o Programa Livre?

Tem que encontrar em algum escrito do Silvio Santos.

NaTelinha - Foi ele que acabou?

Decidiu. 'Acho que já deu, tem que fazer outras coisas, tem que apresentar jornalismo de bancada...'

Não é uma coisa muito distante, não. É que sou muito 'caxias'. É uma profissão que flutua nesse sentido. Até fiz o início no Jornalismo, mas estava grávida da Cíntia. Foi me dando sono e tive que parar, não conseguia assistir as aulas.

NaTelinha - O Silvio falou a verdade pra você. Você apresentou depois programas muito diferentes num espaço de tempo curto: Canta & Dança Minha Gente, Gol Show...

Isso é incrível, porque na época a gente fica inseguro. 'Não tem nada a ver comigo esse programa'. A emissora quer que eu apresente do meu jeito, pegando ali as tratativas e coordenadas. É sobre isso. Eu não tinha esse entendimento na época. Ficava com medo, mas vai com medo mesmo! E eu fazia!

Parte do nervosismo é porque eu queria que desse certo.

NaTelinha - Vamos falar de Ilha da Sedução! Você foi a primeira mulher a apresentar um reality assim em 2002... O Silvio que te chamou?

A Fox queria que eu fizesse porque eu estava livre. E porque queriam devido a minha linha de trabalho. Fui a primeira mulher a apresentar um reality show. A Fox produziu e o SBT transmitiu.

Babi Xavier planeja ressuscitar atração consagrada da MTV: \"Erótica Reloaded\"

NaTelinha - Então você era contratada da Fox e não mais do SBT?

Não! Era contratada do SBT...

NaTelinha - Era contratada do SBT, mas trabalhando para a Fox?

A Fox trabalhava para o SBT... O formato era dela.

NaTelinha - E na época custou 12 milhões de reais. Tem em chamadas isso. Era muita grana. Já tinha tido No Limite, Big Brother e a Casa dos Artistas. O Ilha da Sedução você teve que assistir os outros formatos? Como você se preparou?

Também ainda não. Até 2009 que quando participei da primeira Fazenda, foi às cegas. Você tem a produção que te explica o que é, as dúvidas que pintam e a realidade pra você resolver.

NaTelinha - Não foi gravado totalmente antes de ir pro ar? Você lembra disso?

Não lembro quando foi ao ar...

NaTelinha - Acho que foi em julho de 2002.

Já tinha terminado de gravar.

NaTelinha - Conseguiu assistir em casa?

Assisti pelas fitas em casa. Terminei de gravar... Lembro que estava exausta...

NaTelinha - Apesar de ser um paraíso, hein?

Quando você tá trabalhando, você conhece só onde estava trabalhando. Pegava sol apenas na hora do meu almoço. Não tinha day off. As pessoas estão confinadas.

NaTelinha - E você assistia lá ou não queria ver nada?

Eu sabia algumas coisas. A produção chamava e me explicavam pontualmente assim... Se você ver meu semblante, minha cara de anunciando que teve um 'xananã'... Ficava muito doída. Me lembro que o pessoal queria que eu viesse e gravasse outro piloto.

De um outro programa, que veio até ser parecido... Alô SBT, Alô Babi... Acho que a Adriane gravou. A gente fez esse piloto, mas pedi uma semana. Estava virada. Ficamos 17 dias na pauleira. Calma! Sou jovem mas assim não vou permanecer por muito tempo não.

Na época foi muito tenso.. E aí fui, dei uma passada ou outra. Mas assim, na época, deu problema. Hoje faria diferente. Antes de pisar no avião: 'Vou fazer até o final, depois preciso de alguns dias. Faço o que for, mas preciso de alguns dias'. Ao não ser que aconteça um desastre natural.

Hoje a diferença é essa.

NaTelinha - Teve algum caso que te marcou? A minha principal lembrança é de um casal que o cara não traiu a namorada e ela também não o traiu. Eu via que ele desencorajava os outros a traírem. E pro programa, foi ficando meio chato. E acabou saindo. Na semana seguinte, lembro que estavam no Gugu. Pra você, teve algum caso específico?

Esses acho foram os que venceram, não foram?

NaTelinha - Lembro que eles saíram da ilha...

Acho que eles começaram a fazer campanha, sim. Mas tinha um primeiro casal também, eram tão na deles. Meio branquinhos, ele meio ruivinho... Ali também não teve. Ou teve e optaram por ficarem juntos. Era isso. Na fogueira, quando chegavam... Ou não sei se todos foram até o final. Acho que foi isso.

O casal que ganhou acho que foi Bruna e Vinícius.

NaTelinha - Devia estar no +SBT esse programa.

Tô doida pra ver tudo que já fiz lá.

NaTelinha - Depois você fez o Gol Show. Foi sua última experiência no SBT, né?

Fiz com o Luis Ricardo. Foi ótimo.

NaTelinha - Como você foi parar lá?

Eu estava livre e podia fazer os dois. O Gol Show era um formato específico da casa mas que todo mundo podia apresentar. Não tinha o que variar. Fazia do seu jeito e tal. Não depende de uma expertise. Acho até legal que tenha uma rotatividade.

NaTelinha - Em 2009 você foi confinada em A Fazenda. Por que você aceitou o convite? Você já tinha apresentado um reality show, sabia de todas as armadilhas, cascas de banana...

Sabia? Sabia nada! Cada reality é um. Se você entender que os realities que temos hoje, um de casal... Leva pra uma ilha não sei onde, todos têm nuances diferentes. E o Casa dos Artistas foi específico. Não assistia todos. Não deu pra viciar. Ver aquela novelinha, aquela história...

Mas assim, A Fazenda, é diferente. Quando você vai para um formato... Não tinha outro, não vimos outro. Tinha o papo de que existia em outros países, mas ninguém mostrou nada. Então, quando cheguei lá, acho que não tem nada que o público não possa ver. Tô doida pra ver como funciona por dentro. Queria ver como eram as coisas. Até pra de repente um dia apresentar, por que não ver como funciona por dentro pra depois ter conhecimento de causa ali?

Tinha uma ideia... 'Estou na minha segunda novela, na Record, e quero que lembrem que sou uma apresentadora, que estou à disposição. Quando estiver descansando a imagem, posso apresentar um quadro no Domingo Espetacular, o que seja. Um especial de música, entrevista num festivo'.

Babi Xavier planeja ressuscitar atração consagrada da MTV: \"Erótica Reloaded\"

NaTelinha - Manifestou o desejo?

Manifestei o desejo várias vezes e nada aconteceu. Vou participar desse programa pras pessoas me verem. Queria que as pessoas me vissem.

Na época deixei claro que podia sair a qualquer momento. Não tinha pay-per-view... quem tá me assistindo todo dia via: 'Pra ela já deu'. E calhou de sair. Minha mãe amou. 'A Babi não tá bem'.

Quando eu saí, agora a vida segue. Voltei para as novelas bíblicas.

NaTelinha - Mas você queria apresentar programas? Manifestou a vontade de novo?

Sim, gostaria de ter sido apresentadora da Record um dia. Sim, claro. Por que não? Tem uma audiência incrível, equipes de produção super competentes. Assim como a que eu vi na RedeTV!. A RedeTV! tem os estúdios mais modernos que eu já vi no Brasil. Quiçá América do Sul. É muito tecnológico. Tem um maquinário absurdo. Por isso cobrem o Carnaval muito bem.

NaTelinha - Se você estivesse como apresentadora na Record, talvez não estivesse no elenco de Os Dez Mandamentos, que fez história. A novela chegou a bater o Jornal Nacional, novela das nove. Você viveu um capítulo de história da dramaturgia... Talvez o grande último sucesso da Record. Como é que foi viver esse auge na dramaturgia também e o sentimento de estar fazendo história? Tinha essa pulsação?

É diferente o ator do apresentador. A equipe de dramaturgia se comporta, pensa e age de maneira diferente de um programa todo dia lutando por audiência. Tem uma certa oscilação. Trabalhar no sucesso é muito bom.

Mas pra gente na dramaturgia o que eu me lembro... Não mudou tanta coisa. Não vi, por exemplo, todos começaram a fazer muitos comerciais. A gente continuou no nosso universo. Eu me lembro que a gente tava muito feliz com a coisa no ar, mas talvez a gente sentisse muito mais isso se a gente gravasse em São Paulo. Mas a gente gravava no Rio. Era bem distinto isso.

E você tem a resposta disso nas ruas. A repercussão com o público havia, mas não houve diferença tão grande nas nossas carreiras. A gente tava gravando a novela, não houve uma coisa de... peguei não sei mais quantos filmes, peças, publicidades. Era uma coisa muito específica. Estava lá de egípcia. Não que eu fosse fazer um comercial de panela, produtos de limpeza, que é legal de fazer e pagam muito bem.

O sucesso foi muito comemorado para aquele grupo de atores. Tava tendo feedback, curtindo e querendo mais. Quando a gente começou, que teve Esther, Davi, José do Egito, Os Dez Mandamentos, a produção da Record perguntou: 'Vocês têm perfil no Instagram?'. Quem tinha, conseguiu o azulzinho de verificação. Era muito difícil. A Record foi lá, reuniu nossos nomes. Todo esse elenco quer verificação. Tinha gente que falava 'não quero'. A gente teve verificação no Instagram. E a gente começou a fazer esse movimento. Tem uma porcentagem desse sucesso que foram os atores que movimentaram.

Babi Xavier planeja ressuscitar atração consagrada da MTV: \"Erótica Reloaded\"

NaTelinha - Piscamos e passaram-se 10 anos. E hoje você está em podcast apresentando o Dejavi. Como é estar nesse universo?

Comecei a ser muito estimulada a fazer meu canal no YouTube, meu podcast. Mas não vou fazer sozinha porque sozinha eu já materno, cuido de uma casa, da minha mãe, tenho uma faculdade cujo estudo é muito sério. Estava me formando...

O nome é porque a pessoa vê e diz: 'Já vi alguma coisa com ela. Ela não é aquela atriz? Não é aquela apresentadora?' Por isso o nome Dejavi. Tive uma recuada estratégica, não 100%, continuei trabalhando, menos como estou hoje. Estou nesse movimento de volta, porque quero mesmo. Na faculdade não podia mandar uma self tape pra fazer a novela. Vai que eu pego? Ô benção, mas se eu pego a personagem, tenho que trancar, aí não termino nunca. Só me dei ao direito de trancar a faculdade uma vez pra fazer o Popstar na Globo. Foi a última edição. Não voltou. E eu adorei o que eu fiz. E foi! Depois eu voltei. Queria ter essa vivência acadêmicas, esse documento de diploma. Fui fazer.

O podcast hoje está indo num ritmo legal mas eu quero mais. Sou dessas! Terminei e entreguei meu TCC, fui me reunir com as pessoas e fui pra cima.

NaTelinha - Entre a concepção e realização, quanto tempo foi?

Comecei a ideia em 2023, mas só consegui por o primeiro programa no ar de uma forma muito independente... Tive uma abertura com o Pedro Bixiga, que foi o meu produtor no Programa Livre, que é o dono do SaladaCast, que é quem me abriga. Ele é mentor de podcasts e ele entende esse começo puxado. Ainda estou indo. Venham, anunciantes!

NaTelinha - O que te permitiu isso foi a história construída no audiovisual, né?

E eu gosto muito de conversar. E fazendo Psicologia, foi a fome com a vontade de comer. Posso conversar com uma pessoa muito famosa ou pouco famosa. E é legal porque descubro a pessoa. Espero que o público entenda que é isso, não é reta ascendente do Super-Homem.

O Dejavi é esse talk-show intimista.

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NaTelinha - Você prefere estar do lado de lá ou de cá? Onde é mais confortável pra você?

É mais confortável eu entrevistar. Sou curiosa. Sou mega motivada a fazer a próxima pergunta ou mudar a próxima pergunta. Eu mesma me surpreendo com as conduções.

Quando você fica mais maduro na sua profissão, é gostoso mudar um pouco seus métodos.

NaTelinha - Tem algo em mente qual o projeto dos sonhos na TV aberta?

Tenho. É esse grande apanhado que a gente fez nesse bate-papo. Ele não precisa ser deixado de lado. Ele pode incorporar novidades. A gente tem novidades de forma de interação, por exemplo. De velocidade de informação, por exemplo. Ver o que está se pensando.

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